Kober's delusions

Uma válvula de escape para o dia-a-dia. Idéias, legendas e eficácia gramatical. Bom, bem coisa de louco mesmo.

domingo, outubro 19, 2008

Não Existência

o tempo nos rodeia o tempo todo. driblar a ansiedade e agir impulsivamente são elementos que se alternam dentro de nós. mas como se chega a uma determinada solução para os problemas do hoje sem ter de lidar com o tempo? simples: não se chega. aprendemos tudo por experiência: cair, levantar, falar, sentir, odiar, amar, resmungar e ameaçar. mas não aprendemos a esperar. pelo menos eu nunca aprendi.

tomar decisões no afã do momento sempre foi um dos meus traços mais expressivos. não gosto muito de dar pensamentos a assuntos que parecem óbvios, embora emocionais. assuntos lógicos e emocionais sempre existiram, e a mim estão andando sempre juntos. mas eu não consigo dissociar o agir do sentir. se eu sinto determinada função integrante dentro de mim, pratico-a, sem dar visibilidade às conseqüências que existirão. e às vezes não são boas.

o mais interessante disso tudo é como o próprio tempo consegue fortalecer os laços da ansiedade. quanto mais o tempo passa, mais vontade de fazê-lo passar existe e, por vezes, mais a dor se intensifica. hoje, há uma montanha russa de elementos invisíveis e doloridos dentro de mim: acordo bem, levanto mal, escovo os dentes bem, vejo meus e-mails mal... e assim tudo se reveza, como se uma grande rodovia turva e sinuosa fossem meus sentidos.

e o feedback? inexiste. assim como ele, inexistem razões para acordar, levantar da cama, escovar os dentes ou ver os e-mails: uma eterna cadeia em que, se o primeiro elementos for um constituinte preso a antigos conceitos de dor, os próximos, que a ele se ligam, também estarão defeituosos. e sobrepor uma cadeira à outra, nossa, é laboroso demais! não existem somente frutos velhos dentro de uma cadeia: existem frutos que seriam futuros, mas que foram podados.

e como ela se encaixa no que acontece diariamente? volta o tempo. para alguns, o novo dia que está surgindo desfaz a existência de um dos elementos dessa cadeia que se completa, e, por fim, ao cabo de algum tempo, a cadeia se fecha e se torna passado, completamente. inveja.

sou saudosista de primeira linha. gosto da música dos anos 80, gosto de como a gramática era tratada antes do advento da lingüística, gosto de como os clássicos escreviam as melhores obras da literatura, gosto dos primeiros filmes de terror, por mais defeituosos que sejam. e gosto, acima de tudo, da rotina improvisada que se cria na cadeia de relacionamentos a que estamos dispostos. gosto de ser visionário em relação ao velho: renovação. gosto de sentir o gosto do antigo sempre existindo. e não perco o gosto.

mas, como eu dizia, não parece haver saída para um saudosista que perde as armas da batalha vivida por anos, a não ser a dor de viver com a normativização do novo. ver a situação nova que se desenvolve, em detrimento da situação velha que era confortante, planejada e loucamente abusada em termos de viver o que havia para viver, sobrepor-se à cadeia antiga, das coisas naturais e normais, atinge de uma forma o que eu entendo por coração que punge da vida a própria morte. e não faço isso por querer: faço isso por ser natural, por não haver próprias saídas para um bem que era comum.

o bem comum... incrível é a forma como uma simples pessoa detém o poder do bem comum, contra o próprio bem comum. explico-me: a situação torna-se normal aos olhos de todos, e todos - por todos, entende-se tudo e todos que estão ao redor da cadeia normal e velha - esperam, prevêem e desejam que a cadeia nunca se quebre. oras, pessoas boas querem o bem da cadeia; pessoas boas se acostumam com a cadeia. mas alguém, um só elemento da cadeia, pode pôr tudo a perder. e esse perder não se refere a uma situação de ter ou deixar de ter, uma situação de posse: refere-se a uma situação de vida, em que tudo deve ser apagado para o bem do novo.

e a pergunta que fica, instigantemente, na minha cabeça, é: como o velho, o detentor do velho, o que viveu o velho, o participante da velha cadeia deve-se comportar com a cadeia nova? vê-la se desenvolver, sem ter a participação que tinha? acostumar-se com a novidade e deixá-la fluente no mundo? exaurir do tempo a forma de prevenção e antecipar-se na criação de outra cadeia? ou esperar? esperar o tempo agir e, posteriormente, colher frutos usados? não é uma decisão fácil, porque o sucesso da cadeia nova está em jogo.

enquanto driblo a ansiedade e não dou tempo ao tempo, penso nessas coisas... ser constante no desespero de querer mudar o que não está certo? lutar pela cadeia velha, ainda tão viva? torcer para que os deuses influenciem a cadeia nova da pior forma possível? ou simplesmente se dar por vencido, retirar o time de campo e voltar às favas com essa miséria de vida que sobra? por enquanto, o que sobra é a vontade de inexistir em constante abundância, de ser apenas mais um agente do niilismo, um protozoário sem importância na vida do mundo.

cadeias, tempos, ansiedades e inexistêcias. ninguém nunca me disse que eu deveria dar uma posição a essas coisas na minha vida. urgentemente, o currículo das escolas precisa de reformulação.