Kober's delusions

Uma válvula de escape para o dia-a-dia. Idéias, legendas e eficácia gramatical. Bom, bem coisa de louco mesmo.

terça-feira, maio 26, 2009

Fluências...

as pessoas nos filmes e nos seriados parecem mais interessantes. na verdade, não. o diálogo das pessoas nos filmes e nos seriados parece mais interessante. não há pausas dramáticas por falta de eloquência, não há vácuos perfeitos por necessidade de pensamentos remotos, não há vazios, em si, obstruindo a comunicação de dois mundos, três, quatro. enfim, não há realidade.

e quem nos incutiu essa ideia absurda de que a realidade é melhor que a ficção? quisera eu que fôssemos fluentes em todas as ocorrências linguísticas das 24 comunicativamente lânguidas horas dos nossos dias. ter um pressuposto, argumentar a favor dele e usar de toda a intelecção [palavrinha que parece estar na moda] de que dispomos não parece ser humano, mas ficcional, plástico, caricaturalmente teatral.

de mais a mais, mesmo nunca tendo conseguido entender o que essa expressão significa, mas percebendo seu valor edificante na construção sintática, ainda assim conseguimos algum tipo de abordagem civilizada entre os sapiens. e civilizada, obviamente, aqui se despe de muito do seu critério de homogenia semântica para recriar, com efusões de expectativa bem baixas, o que entendo por contato interpessoal. aliás, está na moda também falar sobre relações interpessoais, inter-humanas, interraciais, interpartidárias, interoescambal. quê?

confesso que sempre achei inúteis essas conversas de administradores, marqueteiros, recurseiros humanos e tralalá. nunca entendi o fundamento de se estudar a atitude de alguém numa entrevista de emprego, por exemplo. no meu entendimento, o bom senso, e não a teoria, rege esse tipo de situação. quem não tem bom senso não deve conseguir o trabalho, e esse é o máximo da potente teoria em que eu consigo pensar usando o próprio bom senso.

a realidade é que estamos nos acostumando a ser cada vez mais guiados por forças maiores que nos ditam regras recém-criadas sobre comportamento, conduta, localização das mãos e posição dos olhares. o mundo está mudando para pior, e quero me congelar. antigamente, nao conhecíamos a maldita pedagogia do oprimido / reprimido / autoritário / whatever e todos aprendíamos na escola; não usávamos cinto de segurança dentro da cidade e muito pouca gente morria por acidentes de trânsito; fazíamos provas superlongas na faculdade e não reclamávamos; dizíamos 'eu te amo' e condizíamos com essas três perversas palavras. o mundo mudou ou nossa visão de mundo mudou para uma tonalidade esbranquiçada, esverdeada, escurecida, avermelhada? nem as cores são mais as mesmas. elas são todas [-adas], não são inteiras, não são completas.

estamos, sobretudo, nos moldando a tipos plastificados, embaladas e rotulados "para viagem". acatamos ideias sem reduzi-las ao mínimo pensamento lógico; seguimos instintos primitivos do antigo bom selvagem; sentimos sensações novas que sequer conhecíamos e chamamos de amor. o manezinho de 13 anos atrás da janela do msn não sai mais de casa para ter o contato interpessoal que tínhamos e...

hum... contato interpessoal. 80% dos estudantes de graduação estão matriculados em alguma área que passa, invariavelmente, pelo estudo dos contatos interpessoais, enquanto a geração que está vindo não parece conhecer o próprio contato interpessoal. estamos fabricando mais enlatados teóricos prontos para despejar conhecimento retrógrado num mundo que nem sabe qual é a sua identidade.

mas os personagens das séries americanas... esses, sim, sabem como ser interpessoais. suas discussões de relacionamentos, as exuberantes DRs, sempre beiram a poeticidade perdida dos parnasianos, com construções perfeitas e frases de efeitos plurissignificativos. eu choro vendo o último episódio de friends uma vez por mês. e sabem qual o máximo da eloquência do episódio? a última fala, que, do alto do seu 1 milhão de dólares por ator, rendeu apenas um 'WHERE?' retumbante num silencioso olhar de seis.

ah, os olhares eloquentes...